Pacientes renais crônicos apresentam um alto índice de alterações sistêmicas. A presença de dano renal afeta significativamente o diagnóstico e a conduta terapêutica dos profissionais de saúde responsáveis. Rins doentes podem desencadear inúmeras manifestações orais, portanto múltiplos transtornos com implicações no tratamento odontológico.
Desta forma, o cirurgião-dentista deve estar familiarizado com a complexidade desse grupo de pacientes. A manutenção da saúde oral é muito importante, uma vez que são candidatos em potencial ao transplante renal. Fator este extremamente preocupante, afinal, existe susceptibilidade aumentada para infecções em transplantados, podendo, as mesmas, advir da cavidade bucal.
Cuidados odontológicos em pacientes renais
Vale aqui ressaltar os seguintes pontos:
- Todos os pacientes renais crônicos necessitam de considerações especiais durante o tratamento cirúrgico oral. Assim, deve-se exigir uma avaliação médica que possa informar o real estado de saúde do mesmo, previamente ao procedimento.
- O tratamento de diálise crônica requer a presença de fístula arteriovenosa (uma grande junção entre uma artéria e uma veia, cirurgicamente criada), porque possibilita um acesso fácil. Requer também a administração de heparina, que permite ao sangue passar pelo equipamento de diálise sem coagular. Por isso, para se evitar sangramento em excesso, é aconselhável que a consulta odontológica se dê pelo menos um dia após a diálise. A fistula arteriovenosa é susceptível a infecções, sendo assim, o dentista deve considerar o uso de antibioticoterapia profilática previamente ao atendimento desses pacientes.
- Havendo necessidade de cortes que promovam sangramento, torna-se importante conhecer os níveis de sódio e potássio no sangue, pois, caso estejam demasiadamente alterados, poderão vir a causar grandes problemas no trans e no pós-operatório. Igualmente, é preciso verificar se o paciente apresenta algum grau de anemia.
- Pacientes com insuficiência renal significativa podem ser incapazes de eliminar do sangue o anestésico local original ou seus principais metabólitos. Isso resulta em um ligeiro aumento dos níveis sanguíneos desse composto e, consequentemente, do potencial de toxicidade. Anestésicos como a lidocaína, que é metabolizada no fígado, podem ser usados moderadamente.
- Pacientes que irão se submeter a um transplante devem ter todas as possíveis fontes de infecção oral eliminadas antes da cirurgia. Nas situações em que o prognóstico de um dente a longo prazo for incerto, deve ser realizada a sua extração. Deve ser evitado tratamento odontológico eletivo durante os primeiros seis meses pós-transplante.
Medicação
- Quando for necessário o uso de medicação antibiótica, analgésica ou anti-inflamatória, devem ser usadas drogas com metabolização hepática. Porém, sempre que possível, o nefrologista do paciente deve ser contactado para o ajuste e escolha do medicamento.
- O uso da ciclosporina por transplantados poderá induzir ao aparecimento de crescimento exagerado da gengiva (hiperplasia gengival). Recidivas poderão ocorrer caso, após a excisão cirúrgica do excesso gengival, a medicação não seja suspensa pelo médico responsável. A ciclosporina é utilizada para evitar a rejeição do órgão transplantado.
Manifestações orais
- Estima-se que 90% dos pacientes renais crônicos apresentarão sintomas orais. A manifestação clássica em pacientes realizando hemodiálise é palidez da mucosa oral, o que reflete a condição anêmica de muitos deles.
- O acúmulo de ureia na saliva pode provocar como resultado um hálito amoniacal, além de alterações do paladar, gengivite, xerostomia (diminuição do fluxo salivar) e também parotidites (inflamação das parótidas).
- Infecções por cândida ocorrem em cerca de 37% dos pacientes e podem indicar problemas sistêmicos avançados. Portanto, exames orais freqüentes para detecção de cândida são sugeridos.
- Várias alterações dentárias podem estar presentes nos pacientes renais crônicos; contudo, as mais comuns seriam: hipoplasia de esmalte, estreitamento da câmara pulpar e erosões dentárias. O acúmulo de tártaro em pacientes renais em hemodiálise ocorre a um nível acelerado. Outras manifestações orais incluem não só mobilidade dentária, mas também dor à percussão e à mastigação, bem como remodelação óssea anormal após exodontias.
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