Pacientes HIV positivo frequentemente precisam de cuidados multidisciplinares que envolvam a atuação do cirurgião-dentista. Há, nestes indivíduos, risco aumentado para o aparecimento de infecções oportunistas e neoplasias na cavidade bucal. Desse modo, por meio de questionário e exame clínico, sinais e sintomas sugestivos da infecção podem ser detectados pelo profissional de Odontologia. Tal fato contribui, substancialmente, para o diagnóstico precoce da doença. Naqueles pacientes HIV positivo já diagnosticados, o cirurgião-dentista exerce um papel igualmente importante, que é o de manutenção da saúde bucal, auxiliando na melhoria da sua qualidade de vida.
Acredita-se haver mais de um milhão de infectados no Brasil, sobretudo quando se leva em conta os casos sub-notificados. Consequentemente, isto significa que uma em cada 200 pessoas no país está contaminada. Embora os meios de transmissão já sejam amplamente conhecidos pela população em geral (sangue e secreções), vale ressaltar que, uma vez exposto ao vírus, o indivíduo pode passar meses ou anos de forma assintomática até que os primeiros sinais e sintomas da AIDS apareçam.
Curso da doença nos pacientes HIV positivo
A evolução da doença em estágios após a infecção:
- Fase de infecção aguda inicial: desenvolve-se 3 a 6 semanas após a infecção, com a presença de febre, dor de garganta, mialgias, exantema transitório, fadiga, etc. Os sinais e sintomas sofrem, então, remissão de maneira espontânea, devido à resposta imune do indivíduo.
- Fase assintomática: neste período o vírus permanece em replicação ativa, especialmente nos tecidos linfoides. Há diminuição progressiva dos linfócitos T. Esta fase pode durar até 10 anos.
- Fase crônica: caracteriza-se, em resumo, pela desintegração da defesa do hospedeiro, iniciando-se com alguns sinais e sintomas (fadiga, perda de peso, diarreia), seguidos de infecções oportunistas, alterações neurológicas, podendo ocorrer inclusive neoplasias. Nessa fase diz-se que o indivíduo desenvolveu AIDS.
Manifestações bucais da infecção pelo HIV
O espectro de manifestações orais causadas pela infecção do HIV é muito amplo. A sua ocorrência depende de fatores como grau de comprometimento imunológico, uso de anti-retrovirais, higiene oral, entre outros. Podem ser causadas por infecções fúngicas, bacterianas e virais, além de processos neoplásicos e lesões de causa desconhecida. Como resultado, as mais comuns seriam:
- Infecções fúngicas: candidíase, candidíase pseudomembranosa, candidíase eritematosa e queilite angular.
- Infecções bacterianas: doença periodontal, eritema gengival linear e PGUNA (periodontite e gengivite ulcerativa e necrosante aguda).
- Infecções virais: herpes simples e leucoplasia pilosa.
- Neoplasias: sarcoma de Kaposi e linfomas.
- Outras manifestações bucais: lesões ulceradas e xerostomia (diminuição do fluxo salivar).
Manifestações sistêmicas
Os pacientes HIV/AIDS podem apresentar diversas alterações sistêmicas como diarreia, pneumonia, tuberculose, toxoplasmose, citomegalovírus, condilomas, alterações do sistema nervoso central, entre outras. Eventualmente, algumas alterações podem ser resultantes do uso de anti-retrovirais, como a queda do número de plaquetas. Níveis de plaquetas abaixo de 60.000 células/mm3 (normal de 150.000 a 400.000) interferem no tempo de coagulação. Entretanto, se o número de plaquetas cair para menos de 20.000 células/mm3, os procedimentos cirúrgicos odontológicos são contra-indicados.
Conclusão
Em primeiro lugar, o plano de tratamento deve ser sempre o mais simples possível, de maneira a atender às necessidades e expectativas do paciente. É importante salientar ao mesmo de modo sistemático, que a má higiene oral em um sistema imunológico deprimido pode vir a desencadear uma série de graves lesões e infecções. Por último, o seu estado emocional se reflete diretamente na sua capacidade de aderir ao que lhe for proposto.
A AIDS ainda assusta, mas já não mais da maneira como assustava nos primeiros anos da sua descoberta. O desenvolvimento do coquetel de medicamentos utilizados para contê-la, enfim elevando substancialmente a qualidade de vida dos que dela padecem, criou a falsa sensação de que os cuidados preventivos já não se fazem tão necessários. Um imenso erro, pois a doença ainda é incurável e o uso do coquetel causa inúmeros efeitos colaterais. Efeitos estes que levam a inúmeras limitações e desconfortos aos que dele usufruem. Isso sem falar do preconceito ainda presente e dos imensos custos para o sistema de saúde do país já tão estrangulado.